11 setembro, 2010

A arte dos tolos e dos românticos




Há quanto tempo não sou surpreendido por um filme.

Cinema, como tudo na vida, vai ficando banal. Apesar desse revés, me é impossível passar uma semana sem por os pés na sala de projeção.

Sala escura, luz do projetor, imagem na tela. Ir ao cinema é mais que um evento, é um ritual.

Nos dias de hoje, com uma escassa produção de filmes bons, o sujeito que mantém um ritmo semanal de visita às salas de cinema é, de duas uma:

ou um romântico irremediável, ou um completo tolo.

O romântico (que não deixa de ser, também, um tolo) é cego e vai aos cinemas pela paixão, pelo amor e pela dedicação aos filmes.

Assiste de Karate Kid à A Origem, passando por Nosso Lar. Nunca sem a esperança de experimentar uma verdadeira obra-prima. A alma do romântico é devota à experiência cinematográfica e, se vê um filme ruim, se sente traído mas não perde a fé.

Por outro lado, o sujeito que vai religiosamente ao cinema, não pela paixão, mas pela mera possibilidade de dar a sorte de ver algo bom, é um completo tolo. Se duas exceções anuais me provarem o contrario, terá sido muito.

A regra é que quase todos os filmes que o tolo vá assistir sejam ruins, bem como o romântico, com a diferença que o segundo vê filmes com olhos apaixonados, o que traz, sempre, uma maior decepção.

O tolo, ante um filme ruim, de outro modo, dá de ombros. Para ele, assistir um filme é como um passeio semanal pelo parque. É geralmente a mesma coisa, monótono, sem graça, e cansativo, com a pequena chance de que fortuitamente um pássaro gigante pouse na sua frente e dance La Bamba.

Dedicar-se ao cinema é uma tarefa difícil e pouco recompensadora. Pro romântico é um relacionamento que não vale a pena. O tolo, bem o tolo está pouco se lixando, vai ao cinema por ir.

Entregar-se verdadeiramente à experiência é raro, uma vez que as decepções são incontáveis. Por isso, é uma pena quando os verdadeiros amantes da arte deixam passar desapercebido grandes obras, talvez pelo cansaço ao qual a relação os submete.

Sou um romântico, por isso sei o motivo de continuarmos indo tão fielmente aos cinemas. Vamos por que é ótimo esperar a sessão começar. É interessante saber que por algumas horas você e algumas outras 30 ou 40 pessoas desconhecidas vão partilhar de uma experiência, vão viver alguma coisa juntos. Vamos porque, na pior das hipóteses, damos algumas risadas, choramos por um cachorro morto, ou levamos alguns sustos.

Mas, acima de tudo, ainda acima de nossa fé tola, vamos porque, de fato, uma vez ou outra, experimentamos verdadeiras jóias.

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