25 fevereiro, 2011

Especial Oscar 2011 - Bravura Indômita


Os Coen são os cineastas da moralidade. Moralidade através do estranhamento. Moralidade através da tragédia.

Quando trabalham nessa chave, realizam filmes memoráveis como “Gosto de Sangue”, “O Homem Que Não Estava Lá”, “Fargo”, “Um Homem Sério”, “Barton Fink” e, em especial, “Onde Os Fracos Não Tem Vez”.

Além disso, prezam a estética como poucos. Prezam a estética em favor do retrato moral.

São raros seus deslizes ou equívocos.

Sua ultima produção “Bravura Indômita”, no entanto, não é tanto um deslize, pois bem realizado, mas é definitivamente um equívoco.

Posso estar enganado, mas tenho quase certeza que esta é a primeira re-filmagem que realizam.

Adaptação do longa de mesmo titulo, do diretor Henry Hathaway, o filme dos Coen não mostra ao que veio.

Para aqueles que não tenham assistido ao original, de 1969, o “Bravura Indômita” dos irmãos pode aparecer como uma bela história bem realizada, sobre uma garota determinada em vingar a morte do pai, descobrindo, por fim, que bem algum fora tirado dessa vingança.

E é exatamente isso que o filme dos Coen é, assim como o é a produção de 69.

O que quero dizer é que essa refilmagem não traz nada de novo em relação ao seu original, seja no campo simbólico da moral, seja puramente na história narrada.

A não ser pelas atuações, que conseguem sair da sombra dos atores do original, em especial o destaque de Jeff Bridges, em relação ao John Wayne, a concepção do filme não tem nenhum sentido prático, a não ser fazer-se mais um filme Hollywoodiano nas prateleiras.

Sou grande admirador do cinema dos Coen, mas como toda carreira, a deles também tem seus percalços, num primeiro momento, o horrível “Matadores de Velhinha” e agora “Bravura Indômita” que, não me entenda mal, não é um mau filme, apenas não tem um propósito em existir.


Indicações

Melhor Filme

Melhor Direção – Joel e Ethan Coen

Melhor Ator – Jeff Bridges

Melhor Atriz Coadjuvante – Hailee Steinfeld

Melhor Roteiro Adaptado

Melhor Fotografia

Melhor Direção de Arte

Melhor Figurino

Melhor Edição de Som

Melhor Mixagem de Som


Chances no Oscar

Bem, sem dúvidas, por tudo que disse acima, acredito que o filme não se destacara na categoria de melhor filme, enquanto que, em direção, os Coen tiveram seus anos, com melhores filmes.

Fotografia, a prévia dada por outras premiações mostra que “Bravura” não vem com muita força.

Quanto as atuações, Bridges tem um Oscar muito recente em sua prateleira e esse é o ano de Colin Firth enquanto que Hailee, bem, tem que esperar mais alguns anos.

No resto das categorias, técnicas, tudo que eu disser será no chutomêtro. Palpito que tenha boas chances em Arte e em Figurino.

Roteiro Adaptado é outro prêmio que passa longe de suas mãos.

Enfim, tem grandes chances de sair sem nada.

22 fevereiro, 2011

Especial Oscar 2011 - Cisne Negro


Se há, em todo o campo das artes, alguma ambição por harmonia ou pelo equilíbrio perfeito, é no balé que essa ambição é máxima.

Não podia ser de outra forma, então, que ao fazer um retrato do transcendental embate entre ordem e caos, Darren Aronofsky optasse pelo retrato dessa arte em especifico.

Nina, uma bailarina recatada, frígida, “santinha” e uma série de outros adjetivos que só lhe são cabíveis pela forma opressora como fora criada pela mãe, faz parte de uma companhia de balé que trabalha na produção do clássico de Tchaikovsky, “O Lago dos Cisnes”.

O diretor da companhia, Thomas Leroy (Vincent Cassel), não falha ao notar em Nina a perfeita encarnação do cisne branco, com toda sua doçura e ingenuidade.

Para tal papel, o desempenho de Nina é perfeito. O problema, em fato, é que, ambos, o cisne branco e o cisne negro deverão ser vividos por uma mesma bailarina.

O segundo, Leroy também é capaz de notar em Nina, do contrário não a teria escolhido. Contudo, Leroy sabe bem, o cisne negro se esconde num inconsciente, quase visceral, da protagonista.

Criada numa rotina de regras e imposições de sua mãe, uma ex-bailarina fracassada, Nina fora moldada a forjar seus impulsos e instintos em ordem e perfeccionismo.

Não podia ser de outra maneira, então, que o outro lado da moeda, o caos, a desordem e o desejo doentio, viesse a tona, em algum momento.

É exatamente assim que, esperando por esse momento, o filme inteiro se desenrola.

Nascida, como todo homem e mulher na face da terra, do ventre de Apolo e Dionísio, Nina tenta, a todo tempo, combater sua dimensão dionisíaca, o que a impede de incorporar toda a verdade que há no cisne negro.

Leroy sabe disso e, portanto, faz é instigar esse lado mais carnal, sujo e inconseqüente que há em Nina. Para isso, faz um jogo de manipulação na mente da protagonista, ao relacionar-se com Lilly, uma outra bailarina da companhia que é, justamente, o oposto de Nina. Lilly é tudo aquilo que está camuflado em Nina e que deverá se revelar.

Enciumada e temente, ante a perspectiva de perder seu papel como protagonista, Nina procura se aproximar de Lilly e tentar incorporar aquilo que em sua outra metade.

Dessa relação, Nina começa a ter delírios, que são, em fato, simbolismos dessa mesma relação, num sentido de que o único objetivo pretendido, por ela, é o de possuir tudo aquilo que vê em Lilly.

É, portanto, emblemática a cena em que ambas transam no quarto de Nina, com a mãe dela à porta. Num delírio antropofágico, Nina finalmente assume seu tesão pela vida, ao mesmo tempo em que quebra com as barreiras criadas por sua mãe.

Pode-se dizer que a grande ambição de Nina é conseguir atingir a harmonia suprema, alcançando o perfeito equilíbrio entre as duas dimensões da vida, criando, assim, a mais pura representação do balé. Essa mesma intenção de Nina é, também, o verdadeiro discurso do filme sobre a alma humana: o irreparável desejo de alcançar a harmonia e a perfeição, mas que só resulta em destruição.

Quando finalmente sobe ao palco, para a estréia da peça, Nina é a redenção do ser humano, desgraçado por natureza.

Em seu ato final, toda a simplicidade e toda a complexidade, toda ternura e repulsa, todo tesão e ódio, enfim, toda a dualidade jamais encarnada nos homens, evapora, num ultimo delírio de perfeição.


Indicações

Melhor Filme

Melhor Direção – Darren Aronofsky

Melhor Atriz – Natalie Portman

Melhor Fotografia

Melhor Edição


Chances no Oscar

Se todo o esforço desempenhado por Nina para alcançar a perfeição tem resultado trágico, o destino de Natalie Portman está a um passo da tragédia.

Seu retrato preciso, não de uma personagem, mas de todo o espírito humano, é antológico. Acredito nunca ter visto tamanha dedicação para um papel. Além disso, Aronofsky, de alguma maneira, elabora um desarme para atriz. Portman está fragilizada e suscetível a todo e qualquer bombardeio que possa lhe vir nas cenas. Ao mesmo tempo, ela aparece aberta e disposta a receber o que quer que lhe seja atirado. É impossível pensar na realização deste filme, em sua qualidade atual, discriminando o desempenho de Portman, essencial ao discurso. Portman é ora comedida, ora visceral, um espetáculo. Não falharão as previsões que lhe julguem vencedora em sua categoria, esse Oscar já é dela, desde o primeiro momento em que as cortinas de “O Lago dos Cisnes” se fecharam pela primeira vez.

Apesar de magistral e belo, como somente esse filme é, acredito que o premio de melhor filme lhe escapa por entre os dedos, numa maior consideração com “A Rede Social” e seu diretor, David Fincher (já há algum tempo merecedor do Oscar).

Melhor direção, como suponho, ficara com o Fincher, fazendo do Aronofsky um novo injustiçado.

E, entre melhor edição e melhor fotografia, acredito que os realizadores de “Cisne Negro” terão de se contentar com a Natalie Portman.

Talvez a noite do dia 27 me prove errado. Se for o caso, não ficarei desapontado.

21 fevereiro, 2011

Especial Oscar 2011 - A Origem


Christopher Nolan sabe, como poucos, instigar o espectador. De seus filmes, pode-se definir: arrebatadores.

Sempre em proporções monumentais, suas realizações são investidas que procuram nocautear os sentidos de quem as assiste.

Sem dúvidas, merecem todas ser vistas nos cinemas.

“A Origem” não é exceção, pelo contrário, é um de seus filmes que mais faz valer essa regra.

Aqui, Nolan brinca com os limites da percepção sobre a realidade, nada de muito inovador até ai, se lembrarmos de Matrix.

O destaque está na abordagem e na construção narrativa do roteiro.

Pode-se entender o longa como uma série de núcleos, onde cada núcleo é um estágio de sonho pelo qual os personagens transitam.

Pelo tempo em que a projeção corre, o espectador pode, e deverá, ficar confuso. Essa é uma das especialidades do diretor, vide o ótimo “Amnésia”.

Mas, após assistido e bem pensado, o longa não apresenta tantas dificuldades para ser decifrado, como pode parecer num primeiro momento, até porque seu verdadeiro objetivo não é deixar claro o que é real e o que não é.

Toda a graça do filme está, justamente, em manipular os limites da realidade, como que andando sobre uma tênue linha entre o real e sonho. Desse modo, evoca temas como coragem e fraqueza, ao entender-se que para sair de um sonho, o personagem deverá morre de alguma forma.

Nesse sentido há uma abordagem acerca da coragem de perceber o que é ou não real, e matar-se, afim de voltar a realidade.

Também, nesse ponto, o filme flerta com a loucura.

E, então, é bela a cena em que a personagem da ótima Marion Cotillard (Mal), esposa de Cobb (Leonardo DiCaprio), se joga do alto de um prédio onde, sob o ponto de vista de Cobb, toma o real por sonho.

A grande pergunta do filme é: não estaria, talvez, Cobb a tomar o sonho por realidade, preso num limbo criado por ele mesmo, destinado a sofrer a morte da mulher e a perda dos filhos?

Longe de ser um retrato de moralidade, e sem nem pretender isso, “A Origem” é, acima de tudo, um ótimo divertimento.

Em seguida, um quebra-cabeças que distorce as noções de um mundo palpável e concreto, dando lugar ao incompreensível imaginário humano.

Pode-se dizer, é um filme de fronteiras. Fronteiras que fazem limite entre o real, o imaginário e a loucura.

Claro, em uma primeira instancia, também, um excelente filme de ação e efeitos visuais primorosos.

Quanto a isso, ainda, de qualidades técnicas o filme está cheio. Basicamente se faz em cima disso. Vale apontar, sobretudo, a trilha de Hans Zimmer, que basicamente dá o tom do filme.


Indicações

Melhor Filme

Melhor Roteiro Original

Melhor Fotografia

Melhor Direção de Arte

Melhor Trilha Sonora

Melhor Edição de Som

Melhor Mixagem de Som

Melhores Efeitos Especiais


Chances no Oscar

Apesar de ser um filme de proporções enormes, também levando em conta o retorno nas bilheterias, “A Origem” não me parece ter muitas chances na categoria de melhor filme. Já quanto a melhor roteiro original, a concepção do filme, bem como sua linha dramática, e a solução encontrada para resolver o empecilho das diversas camadas de sonho, só aumentam as chances da provável vitória do filme nessa categoria.

Nas categorias técnicas, pelo modo impecável como fora elaborado, acredito que vença melhor edição de som, melhor mixagem de som e melhores efeitos especiais.

Direção de arte, fotografia e trilha sonora, por mais perfeita que tenha sido a criação de Zimmer, penso que o filme passara em branco.

Especial Oscar 2011 - Minhas Mães e Meu Pai


O circuito de filmes independentes anda em alta em Hollywood e, a cada ano, ao menos uma produção do meio é indicada ao Oscar de melhor filme, como foram os casos de “Pequena Miss Sunshine” e “Juno”.

A bola da vez é o longa da diretora Lisa Cholodenko, “Minhas Mães e Meu Pai”.

Um tratado, ora cômico, ora dramático, sobre a queda da família tradicional, bem como um retrato da família moderna, o filme é eficiente em seu argumento sobre como as alegrias e dramas familiares são algo inerente a sua estrutura e discriminam qualidades.

Desse modo, quando os dois jovens, filhos de um casal de lésbicas, tentam procurar o pai biológico, descobrem nele, não uma figura paterna, mas alguém completamente dispensável em suas vidas.

A jornada da busca pelo pai biológico se revela no encontro de um pai, tão somente, biológico e na descoberta de que a figura paterna já estava, há muito tempo, presente em suas vidas, por parte das mães.

Assim, a trama se revela, mais uma vez, um ensaio sobre o afeto como objeto que não discrimina qualidades ou gêneros.

Apesar da pertinência que há no tema e da eficiência em como fora abordado, sendo, ainda, um filme divertido, “Minhas Mães e Meus Pais” está longe de ser um filme memorável e não merece nenhum lugar de destaque na história do cinema.

De méritos, o longa está cheio, mas de memorável, somente as atuações de Annete Bening e Julianne Moore, mesmo. Não tanto separadamente, mas juntas na tela, as duas tem uma química vista pouquíssimas vezes antes.

Muito mais do que atuar, elas vivem, de fato, um casal. E é essa representação perfeita, das duas, que dá força a todo o argumento do longa.


Indicações

Melhor Filme

Melhor Ator Coadjuvante – Mark Ruffalo

Melhor Atriz – Annete Bening

Melhor Roteiro Original

Chances no Oscar

Como foi dito, apesar da pertinência da trama, “Minhas Mães e Meu Pai” não tem o menor peso para desbancar qualquer de seus outros nove concorrentes e, apesar da força que há na atuação de Annete Bening e, em menor grau, até mesmo na atuação de Mark Ruffalo, nenhum dos dois aparecem como favoritos em suas respectivas categorias. Também, quanto a roteiro original, o filme não é páreo aos seus concorrentes.

Minha aposta: sai de mãos vazias.

Especial Oscar 2011 - Toy Story 3


Em 1995 a Pixar lançava seu primeiro longa-metragem, Toy Story, e dava inicio a uma nova era de animação digital. De lá pra cá, o conceito pegou e grande parte do mercado de animação investiu na tecnologia.

Em 99, a retomada da trama sobre brinquedos que ganham vida passou relativamente desapercebida, sem muito potencial para se destacar das outras animações no mercado, ou fazer jus ao primeiro longa.

Dez anos mais tarde, com Avatar, 2009 foi o marco do cinema 3D como uma nova forma, muito concreta, de entretenimento na industria cinematográfica, enquanto que 2010 foi o ano em que todas as bobagens possíveis foram produzidas sob esse formato.

Ainda assim, o momento pareceu ideal para revisitar e prestigiar aquele que foi o pai da animação como hoje é conhecida.

A série parece ter crescido lado a lado com aquela geração que acompanhou as aventuras de Woody e Buzz, em 95.

Toda uma geração de crianças, daquela época, hoje é apresentada à maturidade.

E Toy Story, que cresceu junto com essa geração, tem em seu terceiro longa, uma doce despedida do passado.

Andy é a representação máxima dessa geração e, enquanto se encaminha para uma nova fase de sua vida, tem de descobrir o que fazer com aqueles brinquedos que fantasiaram seu passado.

Por fim, os brinquedos são passados à uma nova geração, como deverá acontecer com a série. Imortalizando-se, ao encantar com toda sua graça e beleza, geração após geração.

Indicações

Melhor Filme

Melhor Animação

Melhor Roteiro Adaptado

Melhor Edição de Som

Melhor Canção Original

Chances no Oscar

É fato que, como melhor filme, o longa de Lee Unkrich não tem a menor chance de ganhar. Está na lista apenas para encher lingüiça entre 10 indicados. Mas é fato, também, que é candidato certo para ganhar melhor animação, ainda que “O Mágico” (homenagem a Jacques Tati) tenha ótimas recomendações. Isso porque é uma bela forma de prestigiar a conclusão de uma trilogia que encantou platéias e revitalizou a animação como forma de arte e entretenimento. Das outra indicações, o longa tem alguma chance na categoria de melhor canção original, com a composição “We Belong Together”, de Randy Newman.