15 setembro, 2010

Soderbergh


Soderbergh encanta. Seu cinema remete àquele dos anos 40, dos anos 50. Bom cinema. Seus closes e movimentos de câmera rápidos procuram o interessante e refletem o despertar do olhar curioso. O olhar de um publico encantado com o novo.

Ah, mas este é Soderbergh da trilogia de Onze Homens e Um Segredo, onde a câmera procura a ação com o mesmo interesse que as subjetivas de Hitchcock invadem a vida alheia em Janela Indiscreta.

Já na obra de duas partes Che a experiência é quase documental. Cortes secos garantem um ritmo realista. E a câmera é soberba em seu êxito com a proximidade dos personagens, mesmo entre movimentos rápidos e bruscos.

E se em O Segredo de Berlim prevalece a sobriedade e o mistério noir, em O (Des)Informante o personagem de Matt Damon é a comicidade que faz o filme tão confuso quanto a perturbada mente de seu protagonista.

Diretor de obra vasta – se relacionada a sua idade – Steven Sodenbergh mantém um ritmo frenético na realização de filmes.

Numa média de 2 filmes por ano, o que me atrai é sua versatilidade. Há muito de seu cinema que me incomoda, muita coisa que, fosse outro diretor, eu o repudiaria. O que me desperta o interesse e a simpatia é justamente o fato de não ater-se a padrões estéticos e narrativos. Ou seja, seu estilo é uma variante constante.

Ainda assim, seu cinema é de fácil reconhecimento.

Se por um lado, Soderbergh procura sempre o novo, novas histórias e novas maneiras de contá-las, cada um de seus filmes carrega sempre traços identificáveis em filmes anteriores.

Como que deixando uma trilha de migalhas de pão, enquanto caminha adiante com sua obra, Soderbergh sempre lança mão de alguns pequenos elementos que se fazem reconhecíveis numa espécie de marca registrada.

A começar, todos os seus filmes carregam uma qualidade autoral. São produções de baixo orçamento, sempre inventivas e corajosas. Basta perceber a ousadia do projeto Che, ainda que o resultado tedioso seja um atentado ao pudor.

Mais que isso, o charme da trilogia Onze Homens e Um Segredo é desvirtuado em um humor seco na pretensa elegância de Mark Withacre, o embasbacado protagonista de O (Des)Informante.

Este ultimo filme, ainda, gosto de apontar, apesar de fraquíssimo, é excelente na empatia entre o personagem Mark Withacre e o público. Se alguma coisa vale a pena no filme são suas cômicas e desconexas divagações.

Como acontece com Woody Allen, muitos filmes de Soderbergh não passam do água com açúcar. Talvez seja esse o preço de se manter um ritmo tão frenético de realização.

Para Soderbergh, no entanto, apesar de uma obra eclética, muito diferente de Allen, as obras-primas são mais raras.

Claro, seus filmes são impecáveis e agradáveis de assistir, com uma exceção ou outra, mas não há nada que vá a fundo em questões existenciais, éticas, morais, enfim, humanas. Quando muito, esbarra em pequenos conflitos do caráter humano apenas para alavancar uma comédia ou um suspense.

Talvez em Erin Brockovich se constate mais coragem nesse sentido, mas a verdade é que Soderbergh não é um diretor de obras antológicas, tanto quanto é um empreendedor de filmes esquecíveis.

Apesar disso, é um bom realizador, agradável aos olhos e gentil com o espírito.

11 setembro, 2010

A arte dos tolos e dos românticos




Há quanto tempo não sou surpreendido por um filme.

Cinema, como tudo na vida, vai ficando banal. Apesar desse revés, me é impossível passar uma semana sem por os pés na sala de projeção.

Sala escura, luz do projetor, imagem na tela. Ir ao cinema é mais que um evento, é um ritual.

Nos dias de hoje, com uma escassa produção de filmes bons, o sujeito que mantém um ritmo semanal de visita às salas de cinema é, de duas uma:

ou um romântico irremediável, ou um completo tolo.

O romântico (que não deixa de ser, também, um tolo) é cego e vai aos cinemas pela paixão, pelo amor e pela dedicação aos filmes.

Assiste de Karate Kid à A Origem, passando por Nosso Lar. Nunca sem a esperança de experimentar uma verdadeira obra-prima. A alma do romântico é devota à experiência cinematográfica e, se vê um filme ruim, se sente traído mas não perde a fé.

Por outro lado, o sujeito que vai religiosamente ao cinema, não pela paixão, mas pela mera possibilidade de dar a sorte de ver algo bom, é um completo tolo. Se duas exceções anuais me provarem o contrario, terá sido muito.

A regra é que quase todos os filmes que o tolo vá assistir sejam ruins, bem como o romântico, com a diferença que o segundo vê filmes com olhos apaixonados, o que traz, sempre, uma maior decepção.

O tolo, ante um filme ruim, de outro modo, dá de ombros. Para ele, assistir um filme é como um passeio semanal pelo parque. É geralmente a mesma coisa, monótono, sem graça, e cansativo, com a pequena chance de que fortuitamente um pássaro gigante pouse na sua frente e dance La Bamba.

Dedicar-se ao cinema é uma tarefa difícil e pouco recompensadora. Pro romântico é um relacionamento que não vale a pena. O tolo, bem o tolo está pouco se lixando, vai ao cinema por ir.

Entregar-se verdadeiramente à experiência é raro, uma vez que as decepções são incontáveis. Por isso, é uma pena quando os verdadeiros amantes da arte deixam passar desapercebido grandes obras, talvez pelo cansaço ao qual a relação os submete.

Sou um romântico, por isso sei o motivo de continuarmos indo tão fielmente aos cinemas. Vamos por que é ótimo esperar a sessão começar. É interessante saber que por algumas horas você e algumas outras 30 ou 40 pessoas desconhecidas vão partilhar de uma experiência, vão viver alguma coisa juntos. Vamos porque, na pior das hipóteses, damos algumas risadas, choramos por um cachorro morto, ou levamos alguns sustos.

Mas, acima de tudo, ainda acima de nossa fé tola, vamos porque, de fato, uma vez ou outra, experimentamos verdadeiras jóias.