30 dezembro, 2010

Top 10 da Década



Tarefa ingrata, escolher os melhores filmes da década que passou. Ainda que tenha sido uma década fraca para o cinema, mais do que 10 filmes mereciam ser listados.

Dogville (2003) - Lars Von Trier

Onde os Fracos Não Tem Vez (2007) - Joel e Ethan Coen

Paranoid Park (2007) - Gus Van Sant

Batman - O Cavaleiro das Trevas (2008) - Christopher Nolan

O Segredo dos Seus Olhos (2009) - Juan José Campanella

A Vida dos Outros (2006) - Florian Henckel von Donnersmarck

Cidade de Deus (2002) - Fernando Meirelles

Adeus, Lênin! (2003) - Wolfgang Becker

Réquiem Para Um Sonho (2000) - Darren Aronofsky

Wall-E (2008) - Andrew Staton

19 dezembro, 2010

Sidney Lumet


É uma suave noite de verão em alguma cidade qualquer ao sul dos Estados Unidos. Uma família comum, pai, mãe e dois filhos jantam acompanhados pela namorada do filho mais velho.

É uma cena simples. A cozinha e a sala de jantar estão em quadro. A família começa a retirar a mesa.

Enquanto fazem isso, o pai entoa “Fire and Rain”, canção de James Taylor. O canto solitário logo se transforma num coral e a musica embala a dança de toda a família. O filho mais velho dança com a mãe, enquanto o pai dança com a namorada do filho, logo trocam e o caçula dança com os pais enquanto o jovem casal se vê num primeiro momento de intimidade encabulada.

James Taylor acompanha as vozes que cantam apaixonadas, de uma sala de jantar, em uma casa qualquer de uma pequena cidade ao sul dos Estados Unidos.

Uma cena das mais simples, de poucos recursos técnicos ou estéticos. Ainda assim, uma cena de inconcebível dramaticidade. A típica família americana, em retrato, é na verdade uma família foragida da justiça, por um ato de vandalismo cometido pelos pais, anos antes.

Sempre em fuga, a nenhum dos filhos é dado o direito de criar afeto com o mundo. Por erro dos pais, devem sempre estar desapegados a qualquer coisa que os impeça de fugir.

A namorada em cena é o primeiro laço afetivo que um deles consegue criar. A cena do jantar, nesse contexto, tem um peso enorme. É, de certa forma, o confronto dos pais com a realidade de que terão que tomar uma escolha: ou se desvencilham do filho e seguem fugindo sem ele, para que então, ele possa viver uma vida comum ou continuam a fazer o filho carregar o peso do passado deles.

A primeira escolha implica em uma forte carga emocional para a família, uma vez que nunca mais voltariam a ver o filho, mas com genialidade essa decisão é retratada pelo simples ato do pai ceder a mão da namorada ao filho, durante uma simples dança ao fim de um jantar qualquer.

O filme é O Peso de Um Passado e o diretor é Sidney Lumet. Há pouco me lembrei deste filme e decidi procurar a cena na internet. Já tendo visto o filme antes, me encantei pela segunda vez.

Decidi escrever sobre a cena pelo o que ela representa. É a síntese do bom cinema. Por tudo o que descrevi acima, acho que dá pra entender o valor significativo de uma mera cena de jantar, quando bem contextualizada.

Esse é o tipo de cinema que Sidney Lumet sabe fazer. Em seus filmes a simplicidade fala muito.

Salvo algumas exceções mais recentes, sua carreira é a de um cineasta de respeito. Acho que O Peso de Um Passado, representado nesse texto pela tal cena do jantar, é suficientemente justo como uma representação do que Lumet é capaz.

Mais do que isso, do que o bom cinema é capaz.

Bem, que talvez o texto não tenha valido a pena, a dica vale, assista aos filmes de Lumet.