Votos daqueles que nunca se casaram, nem nunca se casarão, ditos na eternidade de um fugaz momento da madrugada. Ah, sim, sobre uma cama elástica.
É, de certa forma, essa imagem, essa cena, que define o filme do diretor Sam Mendes, Away we go.
Grávidos, o casal Burt e Verona se vê desamparado quando os pais dele anunciam que vão morar na Bélgica.
Sem ter quem os guie pela nova fase da vida, os dois viajam os Estados Unidos – e Montreal – em busca de conhecidos que já tenham alguma experiência em termos de criar uma família.
De Phoenix, onde encontram uma antiga chefe de Verona conduzindo a família da forma mais preguiçosa possível – dada à evidente exaustão do casal –, à Madison, onde encontram-se com um casal “hippie”compenetrado em criar os filhos à melhor – e mais natural – maneira possível, Burt e Verona acabam, por fim, encontrando, em Montreal, o lugar perfeito para criar a filha que vai nascer.
Lá, eles reencontram um casal de amigos da faculdade, pais de uns 4 filhos adotivos, uma vez que Munch, a mãe, já abortou 5 bebês.
Empolgados em criar a família ao lado do casal de amigos, a noticia de que Munch não consegue ter filhos parece preceder uma instabilidade no local, algo que o torna inóspito, dado a tristeza da situação.
Uma ligação, do irmão de Burt, os leva de volta aos EUA, para Miami desta vez.
Abandonado pela esposa, da noite para o dia, o irmão de Burt se depara com a difícil tarefa de contar para a filha que a mãe a abandonou.
O fato levanta uma questão para o casal: por que alguns que tem o que outros tanto querem, não valorizam?
Conduzido muito sobriamente, Away we go é um filme firme, sobre a eterna instabilidade da vida.
Se
Seja como for, Away we go é símbolo desta vida, cada vez mais intoleravelmente incompreensível. Retrato do trauma que nos afeta do momento em que nascemos.
O trauma concebido da dramaticidade de se viver num lugar tão inóspito à vida humana, uma vez que não oferece qualquer resposta significativa ao sentido de nossa existência.
Por assim ser, Burt e Verona, desesperados ao perceber que não tem ajuda de ninguém para criar a filha da maneira menos traumatizante possível, ao procurar ajuda de conhecidos, país a fora, percebe que o desespero existencial – aquele desespero do “e o que faremos agora?” – não é uma questão de gênero ou idade, mas, sim, uma questão, eternamente, humana.
O que o filme faz, seu propósito, é oferecer um conforto. Ao retratar medos, anseios e frustrações, como em todos seus outros filmes, Sam Mendes expõe a dramaticidade da vida como algo essencial dela própria, confortando todas as almas solitárias, como irmãs.
Por fim, Burt e Verona, ao buscarem ajuda, acabam encontrando casais tão perdidos quanto eles, de modo que não se vêem mais sozinhos no mundo, mas encontram este conforto que o diretor propõe. Acontece, apenas, que eles não encontram conforto nos amigos ou parentes, mas, sim, pela primeira vez, um no outro, quando finalmente acham um LAR.
Ainda que “lar” não seja um lugar de respostas e certezas, ainda que seja só mais um espaço de instabilidade e imprevisibilidade, é lá que Burt e Verona, possivelmente, terão um local de conforto na certeza do companheirismo. Conforto enquanto duas almas juntas, como dois grãos de areia no indistinguível turbilhão de questões e medos pessoais, do qual esta sociedade – universo – é tão permeada.
2 comentários:
por que alguns que tem o que outros tanto querem, não valorizam?
Talvez pelo fato de já terem conseguido, pois muitos não dão valor as coisas depois de possuí-las, ou talvez pelo fato de que a importancia das coisa é relativo, o que é importante p/ um não é para o outro.
Não assiti esse filme, mas é aparentemente interessante.
Estou te seguindo. Beeijos'
Ahh...gostei..parece ser mto bo o filme,,gosto de sugestões para filmes assim...vou procurar pra ver sim,,,parabens pelo blogg :) bjs
Postar um comentário