10 abril, 2010

O cinema marginal - We all scream for ice cream!


O ano é 1986.

Tom Waits, John Lurie e Roberto Benigni – presos –.

De sua cela dançam e cantam – I Scream, You Scream, We All Scream For Ice Cream –.

O motim logo toma conta do presídio todo e por alguns segundos todas as celas acompanham a letra – libertária –. Não demora muito, guardas vêm acalmar os ânimos.

O homem por trás da câmera é Jim Jarmusch.

Meados dos anos oitenta. Um novo movimento – marginal – circunda Hollywood.

Legado francês, o cinema independente sopra – novamente – seus  ares sobre o cinema americano.

Down by Law é um dos protagonistas do momento.

Assim como Arthur Penn com Bonnie e Clyde  ao final dos 60 – deu inicio ao que ficou conhecido como o movimento da Nova Hollywood – um momento onde o diretor tem, enfim, voz de autor dentro da industria cinematografica americana –, Jarmusch foi um dos precurssores do cinema marginal.

Jarmusch deu um grito democrático que legou à sua geração e às gerações seguintes, um espaço aos filmes marginais.

De minha parte, não gosto muito do cinema de Jarmusch.

Vejo beleza somente em Down by Law. Pelo que representa. 

Um cinema metalingüistico – não que discorra sobre as qualidades do cinema –. 

Um cinema que discorre – sim – sobre o caráter da linguagem cinematográfica em voga no momento. Um cinema de retórica inerente à narrativa, emergente dela. Retórica que discursa sobre a cristalização da linguagem cinematografica – que se dava pela hegemonia da grande industria –. Aí se dá o caráter democrático do filme marginal, de Jarmusch.

Obviamente, o grito de Jarmusch não foi muito longe, seus ecos são refletidos – em alguns aspectos – nas produções do tipo de Youtube, e nas qualidades da convergência digital – que outorga ao consumidor atributos de autor –. Mas o que se vê nessas produções “democráticas” de hoje é um vazio total em qualquer senso de conteúdo. E que – mais ainda – de marginal não tem nada, uma vez que é vendido sob caráter democrático, mas com propósitos de servir ao mercado. É um simulacro de caráter autoral, legado à grande parte da população.

Aí vem outro aspecto de beleza da obra de Jarmusch. Um olhar que que emerge do filme – ao mesmo tempo que é o olhar implícito da narrativa – e que contempla, de forma recatada – ao reconhecimento de seu pequeno espaço de existência – o próprio momento de sua existência.

É como se o autor soubesse ser efêmero seu grito marginal. Mas grita mesmo assim, na esperança de que seu eco alcance – com efeito – alguém.

É bem sabido que qualquer eco remanescente, não foi, nem será, suficiente pra romper com a grande formalização dos meios de produção cultural. O grito de Jarmusch tem esse pressuposto bem reconhecido em seu tom, mas nem por isso lhe falta esperança. Aí de sua beleza.

A grande conclusão é que enquanto houver uma grande industria em voga, seremos prisioneiros gritando de nossas celas, clamando por nosso pote de sorvete.

Organizando um pequeno motim de sons que reverberam por toda a prisão.

Até que virão os guardas e acalmarão nossos ânimos.

O que também nem importa tanto assim, já que foi bom enquanto durou.

O que fica imposto é que, enquanto houver vida inteligente, o homem gritará por seu pote de sorvete. 

7 comentários:

Anônimo disse...

Uma das cenas mais aclamadas no cinema mais recente que retoma e resgata a tradição do cinema antigo e seu bacharelado de mesclas humoristicas e mesclas criticas a personagens não brilhantes, mas intensamente humanos...

Gustavo Lincoln disse...

Que bacana! O filme se passa todo em preto e branco?

Uma ótima dica. Acho que tem no GOOGLE VÍDEOS o filme completo


até mais

www.gustavolincolnadm.blogspot.com

Luan Silva disse...

AOnde posso conseguir o filme??
Cara que bacana.. Muito bem mesmo..
Belo Blog.. Abraços!!

Thamyzinha Iwasaki disse...

Aposto que é um filme cheio de musicas xD...
maiiis me interessei já quero assistir rss

Dan_Cavalcante disse...

Nossa que old em! achei bem interessante! Quem sabe em um dia com mais tempo eu procure um link pra download :)

Achei bem diferente o blog! Parabéns!

Renan Ogawa disse...

Por ser excelente, indiquei seu blog a receber um selo. Pode pegar ele aqui:(http://renance.blogspot.com/ ) e lembre-se de ler as regras!

Betty VH disse...

sei lá pq pensam q essa coisa de "i scream, you scream, we all scream for ice cream" é "desse" filme!!! é coisa antiga, é como se alguém cantasse ciranda-cirandinha num filme e pensassem q foi inventada pelo diretor... veja aqui, em disco de 1925: http://www.youtube.com/watch?v=-0pfP_MD6xA