O ano é 1986.
Tom Waits, John Lurie e Roberto Benigni – presos –.
De sua cela dançam e cantam – I Scream, You Scream, We All Scream For Ice Cream –.
O motim logo toma conta do presídio todo e por alguns segundos todas as celas acompanham a letra – libertária –. Não demora muito, guardas vêm acalmar os ânimos.
O homem por trás da câmera é Jim Jarmusch.
Meados dos anos oitenta. Um novo movimento – marginal – circunda Hollywood.
Legado francês, o cinema independente sopra – novamente – seus ares sobre o cinema americano.
Down by Law é um dos protagonistas do momento.
Assim como Arthur Penn com Bonnie e Clyde – ao final dos 60 – deu inicio ao que ficou conhecido como o movimento da Nova Hollywood – um momento onde o diretor tem, enfim, voz de autor dentro da industria cinematografica americana –, Jarmusch foi um dos precurssores do cinema marginal.
Jarmusch deu um grito democrático que legou à sua geração e às gerações seguintes, um espaço aos filmes marginais.
De minha parte, não gosto muito do cinema de Jarmusch.
Vejo beleza somente em Down by Law. Pelo que representa.
Um cinema metalingüistico – não que discorra sobre as qualidades do cinema –.
Um cinema que discorre – sim – sobre o caráter da linguagem cinematográfica em voga no momento. Um cinema de retórica inerente à narrativa, emergente dela. Retórica que discursa sobre a cristalização da linguagem cinematografica – que se dava pela hegemonia da grande industria –. Aí se dá o caráter democrático do filme marginal, de Jarmusch.
Obviamente, o grito de Jarmusch não foi muito longe, seus ecos são refletidos – em alguns aspectos – nas produções do tipo de Youtube, e nas qualidades da convergência digital – que outorga ao consumidor atributos de autor –. Mas o que se vê nessas produções “democráticas” de hoje é um vazio total em qualquer senso de conteúdo. E que – mais ainda – de marginal não tem nada, uma vez que é vendido sob caráter democrático, mas com propósitos de servir ao mercado. É um simulacro de caráter autoral, legado à grande parte da população.
Aí vem outro aspecto de beleza da obra de Jarmusch. Um olhar que que emerge do filme – ao mesmo tempo que é o olhar implícito da narrativa – e que contempla, de forma recatada – ao reconhecimento de seu pequeno espaço de existência – o próprio momento de sua existência.
É como se o autor soubesse ser efêmero seu grito marginal. Mas grita mesmo assim, na esperança de que seu eco alcance – com efeito – alguém.
É bem sabido que qualquer eco remanescente, não foi, nem será, suficiente pra romper com a grande formalização dos meios de produção cultural. O grito de Jarmusch tem esse pressuposto bem reconhecido em seu tom, mas nem por isso lhe falta esperança. Aí de sua beleza.
A grande conclusão é que enquanto houver uma grande industria em voga, seremos prisioneiros gritando de nossas celas, clamando por nosso pote de sorvete.
Organizando um pequeno motim de sons que reverberam por toda a prisão.
Até que virão os guardas e acalmarão nossos ânimos.
O que também nem importa tanto assim, já que foi bom enquanto durou.
O que fica imposto é que, enquanto houver vida inteligente, o homem gritará por seu pote de sorvete.
7 comentários:
Uma das cenas mais aclamadas no cinema mais recente que retoma e resgata a tradição do cinema antigo e seu bacharelado de mesclas humoristicas e mesclas criticas a personagens não brilhantes, mas intensamente humanos...
Que bacana! O filme se passa todo em preto e branco?
Uma ótima dica. Acho que tem no GOOGLE VÍDEOS o filme completo
até mais
www.gustavolincolnadm.blogspot.com
AOnde posso conseguir o filme??
Cara que bacana.. Muito bem mesmo..
Belo Blog.. Abraços!!
Aposto que é um filme cheio de musicas xD...
maiiis me interessei já quero assistir rss
Nossa que old em! achei bem interessante! Quem sabe em um dia com mais tempo eu procure um link pra download :)
Achei bem diferente o blog! Parabéns!
Por ser excelente, indiquei seu blog a receber um selo. Pode pegar ele aqui:(http://renance.blogspot.com/ ) e lembre-se de ler as regras!
sei lá pq pensam q essa coisa de "i scream, you scream, we all scream for ice cream" é "desse" filme!!! é coisa antiga, é como se alguém cantasse ciranda-cirandinha num filme e pensassem q foi inventada pelo diretor... veja aqui, em disco de 1925: http://www.youtube.com/watch?v=-0pfP_MD6xA
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