Ouvi a história de um tempo onde os homens falavam de uma missão colonizadora à Marte.
Uma só passagem de ida, algo relacionado a barateamento de custos.
Ao que se sabe, houve toda uma histeria entre os maiores bilionários do mundo, preocupados em se tornarem pioneiros e grandes donos de terra em Marte.
Acontece que, quando um deles era de fato escolhido, acabava recusando a idéia toda. Acho que por uma espécie de medo e receio, pensando em toda a solidão que iam ter que passar e coisa e tal.
Aos poucos, vendo que ninguém mais aceitaria se aventurar pelo desconhecido da maior solidão que alguém poderia se sujeitar, a idéia foi sendo posta de lado.
Alguns, ainda, chegaram a sugerir que se enviasse prisioneiros condenados, mas o pessoal de Direitos Humanos caia matando a pau contra a proposta.
Assim foi indo, até que a coisa foi esquecida por completo.
Mas aí, quando o mundo todo já tinha superado a idéia, conta-se a história de um desconhecido voluntário
Diziam dele, o homem mais desgraçado de toda a face da terra. Em seu inalienável direito de busca da felicidade, seu planeta Terra não era mais suficiente.
Todos os preparativos foram feitos às pressas, com medo de que o bravo e enigmático Zé Ninguém desistisse da coisa toda.
De uma hora pra outra, então, se acendia em todas as pessoas do mundo a esperança de acompanhar a mais ousada investida colonizadora que os homens jamais haviam tentado.
Assim, ao contar de 15 horas dos relógios em Houston, os olhos do mundo assistiam à despedida do primeiro homem em busca de moradia extraterrestre.
E, nem um segundo mais tarde, os motores partiam com as ultimas mensagens de rádio que aquele homem se preocupou em enviar: “Sou o direito ultimo e máximo dessa sua aventura sem medidas, adeus, humanidade”.
Tão rápida quanto a curta mensagem, a central de comando recebeu um sinal de desligamento dos rádios comunicadores.
Nenhum contato jamais voltou a ser estabelecido com o misterioso astronauta.
Em poucos dias o mundo já havia se esquecido da coisa toda e retomado sua rotina.
Apesar de indicadores terem apontado para um êxito na rota, os controladores da agencia espacial deram o astronauta por morto e lhe ofereceram um funeral simbólico, ao qual alguns poucos curiosos compareceram. Nenhum deles, no entanto, era conhecido do misterioso astronauta.
Em sua lápide, ninguém sabia qual nome colocar, uma vez que com toda a excitação de colocar um homem em Marte, haviam todos se esquecido de perguntar-lhe seu nome.
Anos se passaram e ninguém voltou a falar sobre ele, nem, também, voltou-se a pensar em viajar pra Marte, ou qualquer outro planeta.
De tempos em tempos, algum maluco qualquer dizia-se profeta, médium, ou coisa do gênero, e sugeria que o astronauta estivesse vivo, fazendo contato com ele, pedindo ajuda e suprimentos.
Ao que se sabe, há, hoje, uma espaço-nave estacionada em lugar algum de Marte. Dentro dela, se supõe, jaz um corpo, levado até lá, inerte, por rota pré-programada.
Aqui, o mundo continua o mesmo que conheceu o desconhecido astronauta. As pessoas trabalham e se empenham em busca da felicidade e conquista pessoal. Laços afetivos se fazem em busca dessa felicidade, mas não duram e, tão logo se formam, já desaparecem, como um foguete rumo a Marte. Desaparecem num horizonte distante e indistinguível, para nunca mais voltar.
A felicidade, ao que se tem notícia, jaz longe de qualquer verdadeira intenção de ser conquistada, em lugar algum em Marte. Ainda assim, sem mais pensar nela, os homens continuam a se empenhar na busca de alguma coisa qualquer, coisa que já não sabem mais o que é.
De vez em quando, paro e encaro o céu à noite, gostaria de dizer que enxergo alguma espécie de movimento extraordinário ou coisa do tipo, mas não.
Nada.
2 comentários:
O melhor, sem dúvida!
O homem de Marte me mandou um segredo e disse que não deveria contá-lo para ninguém porque talvez os descredibilizassem e o considerassem mais um lunático que já viveu no planeta. Eu, má que sou, resolvi traí-lo.
Esse homem me contou que em Marte nao encontrou água e nem alimentos de que tanto precisava, mas quando a insatisfação tomou conta do seu corpo e o pingo de arrependimento começou a tomar a sua ainda sã consciência, ele então percebeu que ali dentro tinha algo a mais do que um homem que não queria estar onde estava. No meio de todo aquele vazio e solidão ela estava ali, dando acenando para ele. Mas por incrível que pareça, ela não estava na experiência em Marte e em lugar nenhum do Universo. Estava dentro dele mesmo, esse tempo todo. E como a ficha que cai, ele entendeu que quando fazia a conspiração do viking William Bonner, comprava água na cidade baratenta 01h da manhã ou brincava de rodar no cano e se jogar no chão, ele não estava buscando. Ele já a tinha encontrado, apenas não percebido.
O processo da percepção torna-se cada vez mais individual, mas depende da relação com o meio.
Te adoro pi.
Bjs,
Pepi, o marciano.
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