02 maio, 2011

A morte de Bin Laden pede uma Coca-Cola!


Quem é Emmanuel Goldstein, o inimigo público N˚ 1 do romance de George Orwell, 1984?

Goldstein é uma figura intocável, distante e abstrata. Uma ameaça real e constante que espreita a vida cotidiana e que coage os homens em um misto de terror e ódio.

Goldstein é quase uma entidade do terror e, por assim ser, não nos parece palpável. Aparece, sim, como um risco aterrorizante no distante horizonte.

A madrugada de 2 de maio de 2011 ficará marcada por um momento histórico em que o maior império do mundo se viu, cegamente, livre de seu Goldstein. Por algumas horas, a maior nação mundial comemorou, num delírio coletivo, a vingança da liberdade individual sobre o fanatismo.

Na Times Square, em Nova York, em frente à Casa Branca, em Washington, e por todo o resto da nação, multidões erguiam a bandeira americana, ostentado todos seus valores e direitos, ali, então, garantidos.

Obama foi à público e, assistido mundo afora, afirmou – O mundo é um lugar melhor por causa da morte de Osama Bin Laden –.

A euforia foi geral.

Com essas palavras, a livre iniciativa, a liberdade de expressão, a cidadania, a garantia de uma vida digna, um Big Mac e todos esses conceitos que vem no KIT USA, ficaram garantidos, sem mais temer que um maluco barbudo os pusesse em risco.

Entender que a morte de um homem não é o fim de um conflito entre modos de vida e percepção de mundo completamente díspares, parece insignificante quando a figurinha de ouro do Ocidente vem e diz – está tudo bem, agora –.

A clara evidência de que o pior está por vir não fica evidente na festa, em certa medida, nefasta da madrugada do dia 2.

O que não parece claro, também, mas que Orwell evidenciou para um mundo, obviamente, sem memória, é que Goldstein era um mito, uma forma clara de dominar uma população pelo medo.

Não faço coro com as vozes burras de teorias da conspiração ou qualquer coisa do gênero.

O que quero dizer é que, assim como Goldstein, Osama Bin Laden era uma figura abstrata que encarnava todos os conceitos destes fundamentalistas irracionais.

Como com Goldstein, o governo americano faz e desfaz uso dessas figuras para vender a imagem de um país livre e de uma liberdade que tem que ser defendida ao sangue de seus cidadãos, quando ameaçada pelo terror de alguns malucos.

E é em cima da figura de Bin Laden que se fortalece a imagem do herói que o combate. E todo mundo compra a esperança de um mundo melhor numa camiseta, porque: Yes, we can.

Se é ou não o fim da era do terror, se a morte de Bin Laden vai ou não tornar as coisas ainda pior, tudo isso pouco importa, contanto que se garanta a falsa certeza de poder comprar uma camiseta do Mickey Mouse sem ter um avião caindo na sua cabeça.

A realidade ou a verdade deixaram de ser parâmetros há muito tempo e é num mundo virtual, sem Osama, que Obama se reelege.

Nesse mundo de ignorantes, o importante é saber que existem razões para acreditar que tudo vai ficar bem.

O importante é saber que a cada tanque de guerra fabricado no mundo, são feitos 131 mil bichos de pelúcia.

O importante é saber que a cada corrupto, existem 8 mil doadores de sangue.

O importante é saber que para cada pessoa dizendo que tudo vai piorar, existem 100 casais planejando ter filhos.

O importante é saber que pra cada Osama existe um Obama.

Ah, como é fácil vender Coca-Cola.

Um comentário:

Susy disse...

muito bom!!!é bom saber que na faap não tem só idiota