28 março, 2010

Um Homem Sério

“When the truth is found to be lies, all the joy within him dies.” – Jefferson Airplane.

 

Somos homens de bem. Somos homens por um bem maior.

Servimos ao mundo de forma coesa ao propósito final de servir à uma ordem idealizada.

Lawrence Gopnik é coerente na sua vida social – profissional e familiar – e sua devoção apoteótica é para com o judaísmo. Lawrence é – por suas próprias palavras – um homem sério.

Acontece que, apesar de toda devoção e da forma coerente como leva sua vida, Lawrence passa a ser objeto de uma serie de desgraças que sobre ele recaem.

De formação judaica e professor de exatas num colegial, Lawrence recorre à religião para ajuda – ante problemas matrimoniais – e à lógica para entender porque o mundo insiste em desabar sobre ele.

O que Lawrence não enxerga é ser vitima de uma tragédia maior que ele. Ele é vitima de uma tragédia grega. A tragédia do acaso e da predeterminação.

A tragédia de humor negro de Joel e Ethan Coen.

Lawrence está fadado à desgraça por não perceber isso. Por não perceber que não há recompensa em tentar tirar sentido da vida. Lawrence é a figura de qualquer ser que diante de problemas, ao recorrer aos dogmas religiosos ou raciocínios lógicos, irá, inevitavelmente, recair na desgraça.

Um Homem Sério é um filme de olhar cético. Em seu prólogo, os irmãos Coen convidam o espectador justamente a participar desse mundo permeado de questões, onde, enveredado em verdades absolutas, um sujeito será levado à falência de suas crenças.

Se és devoto e tua devoção não lhe é recompensada mas, pelo contrario, sobre ti um mal se abate, que farás?

Lawrence Gopnik é amaldiçoado, do inicio ao fim do filme. Sendo sua vida mediada por certezas fundamentais no âmbito lógico e crente, ao ser testado pelo acaso, de tal modo, acaba finalmente por romper com a moral ética.

É basicamente um retrato desse rompimento que os Coen pretendem.

Num tom contemplativo – clássico de suas obras –, eles assistem à queda em desgraça desse homem.

Jogam sobre ele todo tipo de maldição.

Brincam de Deus com um bonequinho de Jó em mãos.

Diferente da passagem bíblica no entanto. O que os Coen pretendem testar não é a fé de Lawrence, mas os limites dessa fé e o quão atrelada ela está as ações morais e à ética social.

É como canta Jefferson Airplane durante todo o filme – aos ouvidos do filho de Lawrence, Danny –: “When the truth is found to be lies, all the joy within him dies”.

Quando a religião e a razão lógica não respondem às questões de Lawrence, nem tampouco o ajudam à combater ou entender as desgraças que lhe caem sobre a cabeça – justo sobre a cabeça dele, “um homem sério” –, Lawrence não rompe só com elas, mas também com a ética social.

Pratica, por fim, a corrupção e simboliza a degradação dos valores conquistados pela humanidade – se postos de tal maneira atrelados à coisas tao relativas quanto a fé –.

Ai ele se torna objeto da tragédia grega dos irmãos Coen. O filme deixa transparecer essa qualidade num sentido em que as conseqüências finais estão predeterminadas independentes às ações do protagonista.

Tendo Lawrence, uma vida tão cheia de certezas dadas pela fé e pela razão lógica, quando prejudicado pelo acaso desconhecido – típico de um olhar cético –, não haverá Lawrence habilidade para lidar com esse acaso, pois recorrera aos seus valores fundamentais – religião e lógica – e os questionará, fazendo com que entrem em crise e por fim acabará rompendo não só com eles mas também com os princípios sócias de ética de conduta.

Ai a tragédia grega predetermina – por pressupor os valores de Lawrence – um fim do qual ele não conseguirá escapar. As conseqüências, no entanto, iram ferir preceitos bíblicos e deixarão em aberto uma questão – Lawrence foi castigado por ter se corrompido? –.

Se Lawrence foi castigado ou não, não cabe a nós perguntar, ou recorreríamos no mesmo erro de Lawrence, o de tentar tirar sentido em tudo. E os Coen nos previnem pra essa questão já no prólogo, como citei acima.

O que de importante há nessa ruptura de Lawrence e naquilo que – relacionado a essa ruptura – fere os preceitos bíblicos é a desgraça que irá recair nos ombros do filho de Lawrence – Danny – devido os erros do pai.

É, também, num paralelo de cenas entre pai e filho, que o filme vai delineando como o comportamento de Lawrence vai influenciando a vida do filho.

A tal altura do filme, Danny caminha por uma sala e passa pela obra O Sacrifício de Isaac – que é o ponto auge dessa relação entre pai e filho –.

O que essa referencia bíblica levanta não é – repito – uma justiça divina e a existência ou não dela.

Mas reflete como o rompimento do pai ante os valores morais irá afetar o filho, ou no caso se Abraão não confiasse em Deus e fosse desobediente, teria sido castigado. Lawrence é o oposto de Abraão, ele rompe com seus valores ao ser testado. Os Coen o testam à esse ponto pra mostrar como certezas absolutas, quando postas em questão, levam ao rompimento moral que, no caso recai sobre as futuras gerações – a geração de Danny  é a de Woodstock –.

No final das contas, Lawrence é uma espécie de Édipo com uma antagônica paciência de Jó.

7 comentários:

Unknown disse...

isso é uma historia seria?

putz achei muito interessante, concordo com varias coisas postas ai. Legal cara, parabens :)

cacaubertrand disse...

Bem interessante o texto.

aBS

Lenivaldo Silva disse...

kkkkkkkkkkkk
Aposto que esse cara aí de cima nem leu o pst...
Depois que li a seu post,se fosse na Locadora ou no cimema e esse filme estivesse em cartaz eu não o veria.
É bom a gente ler blogs de filmes por que já sabe o que ver quando chega na Locadora...
Mas o blog tá legal,só achei um pouco redundante o texto no início...

valeu

Betty Gaeta disse...

Eu jurava que tinha assistido este filme, mas ao ler sua resenha vi que não assiti. Não sei se estou no momento de assistir um filme tão deprimente... Mas sua resenha é perfeita, até para quem não se interessa por este tipo de filme.
Parabéns!

Marcinho disse...

Caramba, eu nunca vi e nem vou ver ess filme, pelo menos agora...


ihaosiashaoisah


Passa la no meu blog...

http://marcioaugustocoutinho.blogspot.com/

Anônimo disse...

Cara,esse filme me passou batido,apesar do apelo que o nome dos Coen trazem a cada filme,embora alguns não se confirmem.Parece uma história legal,eu curto isso.O limite da fé em si mesmo,até onde vai,a capacidade de cada um lidar com o fracasso e quais as armas que dispõem para resistir.Vou procurar assistir.ótima descrição do intento do filme.Parabens!
Fábio Zen

EM CARNE VIVA PARTE 7
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melk e calina disse...

Cara, gostei bastante do seu texto, mas discordo sinceramente do seu ponto de vista sobre o filme.

Um Homem Sério não é um filme cético. É um filme sobre fé e valores atrelados a uma Tradição. (a personagem que conversa com Lawrence fala bem sobre isso na cena da praia)

Danny vê o quadro de Isaac e a bandeira dos EUA (judaísmo e patriotismo) no final do filme porque, ao contrário do pai, são valores que estão sucumbindo mas que agora estão em suas mãos. O momento é de crise, o mundo tá desabando, danny é um merda, mas agora ele é um homem e tem de tomar uma decisão.

Lembre-se também que o tema de enfrentar a crise com patriotismo e aquela coragem envelhecida ianque é tema dos irmãos cohen recorrente (basta lembrar de Onde os Fracos Não Têm Vez).

É isso, mas tem mais. se quiser continuar, podemos bater um papo. xD

Parabéns pelo blog.