25 fevereiro, 2010

1933 foi um ano ruim.


A precisão com a qual algumas pessoas tem a capacidade de descrever seu passado é uma das coisas que mais me encanta.

Seja num filme, num livro, ou em qualquer outro suporte, textos sobre uma época passada carregam consigo aquelas impressões nostálgicas que, inevitavelmente, nos remetem a nossas próprias lembraças.

John Fante tinha essa habilidade. Seus escritos são impressões pessoais das coisas que viveu.

Fante, escritor americano nascido em 1909, foi jovem numa época em que, acredito, preferia não tê-lo sido.

Não li "Pergunte ao Pó". 

"1933 foi um ano ruim" foi o que li de Fante, numa espécie de prólogo para a posterior leitura de "Sonhos em Bunker Hill", que me pareceu, assim como a primeira, muito biográfica.

O que Fante narra em "1933 foi um ano ruim" é o relato de sua juventude, no momento em que os Estados Unidos vivem os sintomas da crise de 29.

A impressão que se tem ao ler o livro é a de estar suspenso no ar, em meio a um turbilhão de coisas acontecendo a nossa volta. 

É assim que Fante mostra sua posição naquela época. Sua família pobre, devastada mais ainda pela crise, é o retrato de milhares de outros lares na mesma condição.

E seu alter-ego, Dominic Molise, é aquela figura que se mantém jovem até hoje. 

Suas indecisões a respeito do futuro, sua insegurança e seus anseios são tão atuais que discriminam a época de seu relato.

Ai se encontra a particularidade, paradoxalmente genérica, da escrita de Fante.

Sua narração é pessoal, e tal pessoalidade a transpõe à um patamar comum ao leitor. A descrição que ele faz de seu universo, possibilita uma abstração àquele universo que é conhecido pelo leitor.

O decorrer do livro é, para aqueles que o lêem, assim como para Dominic (Fante), um caminhar no escuro. Cada palavra é um passo suspenso na incerteza de onde se pisa.

Isso não só reflete o universo confuso daquele garoto, mas a época de uma sociedade devastada pela depressão econômica e pairada ante o espectro da segunda G.M.

Ainda que desconheça esse universo, entendo seu protagonista. Ai me encanto.

A verdade é que não sei o que é viver numa sociedade economicamente devastada. Meu sonho de juventude não foi ser um grande jogador de beisebol. Nem, tampouco, tive que trabalhar longas horas numa fabrica pra ajudar a sustentar minha familia no pobre e rigoroso inverno americano.

Apesar disso. Apesar de não saber muito a respeito da crise. Apesar de desconhecer as linhas que amarravam os relacionamentos em uma época socialmente frágil, uma coisa eu sei.

Uma pequena coisa eu sei.

Sei que 1933 foi um ano ruim.

15 comentários:

Admin Futebobeiras disse...

excelente seu texto!
estou seguindo aqui
siga e comente no meu
www.futebobeias.com.br

LOFF disse...

Tambem adorei seu texto!!Não tinha ideia que vc escrevia tao bem Lili!!!!!!Mil beijos lindao!!!

Anônimo disse...

Excelente texto!Acho que todos nós tivemos um ano ou momentoruim na vida.

. Yuri Barichivich disse...

Cara, para seguir nosso blog é só assinar o RSS. Fica em vários lugares da pagina, só ir lá checar ^^
Ou seguir o twitter do blog, no qual sempre atualizamos.

Verball
Siga-nos no @BlogVerbALL

. Yuri Barichivich disse...

Comentando no texto agora, muito bom cara. 1933 nem foi um ano tão ruim, historicamente. 30 ~ 32 foi pior.

Verball
Siga-nos no @BlogVerbALL

Izabelle Valladares disse...

Sou escritora e este é meu blog
http://blogdaizabellevalladares.blogspot.com/
Quer se tornar um escritor? neste blog coloco dicas para ajudar pessoas que querem tornar-se escritores.
http://queropublicarmeulivro.blogspot.com/

Izabelle Valladares disse...

Gostei muito do seu texto, é claro e preciso,no livro da auto biografia de Sidnei sheldon ele diz que tentou suicídio neste mesmo ano, por conta da crise economica dos EUA, acho que este foi realmente um ano muito Ruim!

Cláudio N. disse...

Ficou excelente seu texto, deu até vontade de ler as obras desse autor. Virei seguidor, parabéns.

Jessica Pagliai disse...

Parabens pelo texto, mtooo bom msm :D

Gutt e Ariane disse...

Eu fico imaginando... como é essa história de levar um carrinho de supermercado CHEIO de notas de dinheiro, pra simplesmente comprar pães!?!?! Que inflação foi aquela cara?!

Em um outro contexto, durante a II Grande Guerra, meu avô falou que isso tbm aconteceu na Europa, tanto que esse foi um dos motivos primordiais para ele decidir vir para o Brasil...

Anônimo disse...

Muito parabéns pelo blog. Já tá nos meus favoritos! Vale a pena conferir esse tb: http://www.annyas.com/screenshots/

João Marcelo

Judson Coelho disse...

Parabéns, muito bom o texto, estou seguindo...

Abraço!

Pedro Prado disse...

Adorei seu texto..Muito bom e interessante!!
=)

Luh disse...

Por mais que imaginemos, não dá para saber o quão doce ou duro é uma etapa de vida de outrem.

Parabéns pelo texto.

Matheus Manoel de Souza Santos disse...

Ótimo texto. Fiquei interessado pelo livro, e gostei muito do assunto, mostrando uma época de tantos conflitos e de tanta miséria. O blog é muito bom! Boa sorte e Sucesso!