28 fevereiro, 2010

Being There


Muito além do jardim. A primeira vez que assisti devia ter uns 8 anos, foi com meu pai.

Me admira como algumas coisas tem a capacidade de se prender à nossa memória. Pequenos momentos que poderiam ter passado como qualquer outro momento da vida. Mas que por algum motivo vão se prendendo em nós e aos poucos, com o acumulo dessas lembranças, vamos formando quem somos.

Enfim, lembro-me que era um sábado e que chovia lá fora. Entrei na sala e meu pai estava assistindo ao filme. Ao tão enigmático Muito Além do Jardim.

Lembro de assistir alguns lances do filme. Depois de um tempo sei que achei entediante e fui fazer alguma coisa que, não tenho duvidas, achava mais divertida.

Alguns anos depois, quando já sentia um interesse maior por cinema, entro em uma locadora e não encontro filme algum. De repente bato os olhos numa prateleira e, de imediato, me vem a recordação daquele dia, perdido em algum lugar em minha mente. Escondido em algum lugar em mim, esperando pra ser resgatado.

A capa foi o que me fez lembrar. Aquela capa com aquela cena, que até hoje me é tão bela. Chance e seu guarda-chuva sobre a água. Levei algum tempo para entender a profundidade daquela cena. Talvez porque, justamente, tenha buscado alguma profundidade nela. Quando o que ela representa é algo muito raso. Chance Gardner é aquela figura que se mantém na superfície. Ai esta sua beleza. O fascínio que exerce sobre as pessoas é o da simplicidade.

Chance passou a vida morando na casa de seu velho patrão. Nunca deixou a casa. Aquele mundo é seu mundo de experiências, cuidar das plantas é o que ele conhece. O resto das informações e seu único contato com o mundo externo vem de uma pequena televisão. Suas experiências são limitadas àquele universo. De resto, Chance é um voyer. Observa à distância nosso mundo.

Mas como crer naquilo que vê? Chance não o faz.

Chance Gardner é uma espécie de cético, mas uma espécie que dá pra gostar, ingênuo. Ele não é, por intenção, um questionador das coisas. Na verdade, Chance nada questiona.

Quando é posto pra fora de casa por um acaso natural da vida, a morte de seu patrão, Chance entra em contato com a natureza empírica do conhecimento de mundo. Chance não mais observa. Ele vive. Mas seu estado natural, sua passividade, é o que o guiam por aquele mundo.

Chance Gardner é um ser sólido. Concreto. Nunca teve de medir suas ações. Nunca foi apresentado à conceitos de relações sociais.

Chance age conforme o mundo lhe exige. Chance dança ao ritmo da música, ainda que à sua própria e ingênua maneira.

Não demora muito, Chance chama atenção de pessoas importantes e sábias. Sua ingenuidade é tomada por sabedoria. Sua passividade por elegância. Chance nada conhece do mundo, nada lhe foi imposto, portanto, de nada desconfia. Se deixa levar.

Admirado até mesmo pelo presidente dos Estados Unidos. Quando as únicas observações que é capaz de fazer, quando os únicos argumentos que é capaz de levantar, são relacionados à sua casa, à seu jardim, à seu mundo.

Chance é o belo “dar de ombros” ao mundo. Não de um jeito presunçoso. Até porque de atitudes presunçosas, Chance nada sabe.

Sua falta de interesse naquele mundo abstrato que à ele se apresenta é ingênua. Aquelas pessoas, formadas de regras de conduta social, cheias de ideologia. Aquilo tudo está muito distante para Chance. Ele não se preocupa em ir atrás.

Sua personalidade ambígua. Sua suposta sabedoria. Todas essas coisas. Todas essas coisas são meras conclusões daqueles que precisam chegar a conclusões.

Chance não é um conceito. Chance não é uma abstração.

Chance Gardner é o ser humano em sua forma natural e concreta. Sem interferências.

Chance Gardner é a beleza rasa do homem em seu estado mais simples.

O resto, bem, o resto está muito além do jardim.

12 comentários:

Marcel Aoki disse...

Eu amei esse filme e adoro o Peter Sellers.
abraço

Jeh Pagliai disse...

Adoreiii, parabens :D

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www.jehjeh.com :D

Fabrício Bezerra disse...

eu nunca assiti esse filme,que eu me lembre.mas se eu me lembrar eu assisto pra ver se é bom

Unknown disse...

Porra Mamaco, ta escrevendo muito meu !! Isso ai!!
Abraço

cacaubertrand disse...

VocÊ escreve bem, parabéns.
Nunca tinha ouvido falar nesse filme..rs

Anônimo disse...

Este filme é um dos mais marcantes dos últimos tempos, não troco nenhum filme de hollywood por ele, simplesmente fantástico!

Anônimo disse...

Amei *-*

Muitooo booommm mesmo..

Bjo

. Yuri Barichivich disse...

Ficou muito bom o texto, e não concordo com gente falando apra fazer menor.
O filme é bom, mas tenho preferencias por outros estilos.

Verball
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Marcus Vasconcelos disse...

Nunca assistir, mas vou me lembrar pra baixar.

Parabens Fera!

Sucesso.

Ja estou te seguindo!

http://blogdomarcolinoo.blogspot.com/

Marcus Vasconcelos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
CAROLINA LOFF disse...

uauuuuuuuuuuuu!!!!!!!!!!!!!!adorei!!!!

Alexandre Terra disse...

olha, ja ouvi falar desse filme, mas nunca assisti, essas memorias de infancia ficam p sempre guardadas...mt bom o blog

http://alexandreterra.blogspot.com/