18 fevereiro, 2010

Billy Elliot


Billy Elliot passava na televisão alguns dias atrás. Entusiasta da cultura britânica, o que mais me agrada no filme é seu subtexto.

Sob o contexto da greve dos mineiros na Inglaterra em 1984, a história do garoto que quer dançar balé é um contraponto delicado dentro daquela lógica brutal.

O subtexto, no entanto, a que me refiro, é aquele que se lê nas entrelinhas, a Inglaterra dos anos 80, e como era crescer ali naquela época.

Pubs e Rock, com muita cerveja. Era esse o abrigo daqueles mineiros que amaldiçoavam Thatcher. De dia a briga sindical contra o expoente sistema neo-liberal, de noite o refugio.

Antes ainda, no entanto, de ver o filme na televisão, havia assistido ao musical Billy Elliot. É uma experiência indescritível. Um espetáculo ao vivo é o tipo de coisa que da validade a qualquer argumento empirista.

Foi o caso.

A experiência de ver ao musical ao vivo proporcionou um grau de envolvimento com o texto que o filme não alcança. O suporte textual é sem duvida o que faz a diferença. Estar num ambiente, frente uma sinfonia ao vivo e uma encenação cara a cara, devo dizer, vence qualquer filme.

O mérito do filme, no entanto, não é menor por causa disso. Sua grandiosidade é diversa àquela do musical. Ele tem a pontual qualidade de singularizar a Grã-Bretanha a partir de uma historia, realmente, única.

Billy Elliot é quem simboliza essa qualidade. Sua devoção com o balé sobrepõe um discurso diferente a um simples e formal retrato da sociedade inglesa na época da greve.

De modo que o retrato dessa sociedade, então, é feito a partir da premissa de vida daquele garoto, o que o torna singular e magnífico.

Sob esse aspecto, Billy reflete o progresso da greve. Ele é como um espelho que mostra o desenvolvimento daquele momento, num sentido em que as coisas que acontecem dentro de sua casa, tão envolvida com a situação, transformam reações nele.

Seu pai e irmão, ambos mineiros, sofrem os efeitos da crise de seus trabalhos e, ao garoto, ferem com suas reações.

Billy reage. Assim, ele representa a crise social daquele ambiente.

É uma construção sublime, de caracteres e personalidades em transito. A instabilidade social do momento é representada pela instabilidade de seus personagens. A ascensão final de Billy, ao seu objetivo, vem mutuamente com o fim da crise. É um ciclo que se conclui em meio a conflitos gerados por aquele contexto.

Uma cena que muito me agrada e que, bem, representa essa ligação e relação de simbolismo entre o garoto, Billy Elliot, e a greve, é quando Billy e sua professora estão suspensos por um guindaste que faz a travessia de um lado para o outro de um rio. Os dois conversam sobre as origens do balé enquanto são transportados impassíveis, de um lado pro outro. Essa cena reflete a posição em que o garoto se encontra frente a crise daquele momento versus seus desejos e ambições particulares.

É um espetáculo de construção narrativa e representativa. O retrato daquela sociedade em crise, também, ainda que triste, não foge a uma nostalgia agradável. E acima da beleza discursiva do filme, como já mencionei, acho que o que mais me agrada no filme é justamente esse olhar nostálgico para aquele passado.

Como disse, ainda que não tenha experimentado nada disso, sou um grande entusiasta da cultura britânica.

17 comentários:

Vanessa disse...

Uau! *__*
Uma dasmelhores críticas que já li!! Você leva jeito para a coisa... E não falo na boca para fora não! Faço Jornalismo e já tive aula de "crítica de Mídia"
Adorei o blog... Seguir-te-ei!!
Aguardo você no meu!!
Bejinhos!

Anônimo disse...

Você é talentoso ^^

Adorei o blog ;D

Bruno (Binão) disse...

Realmente comentarios e criticas muito bem elaboradas sobre o filme , parabens

FabioZen disse...

Uma critica de fundamento.Vou buscar o filme.Parabens1

Yuri [VerbALL] disse...

Também irei ver o filme novamente, boa critica.

palavras ao vento disse...

filme assim não faz meu estilo...

-Tri disse...

Boa crítica, ótimo filme, até ajuda! rs

http://tdauw.blogspot.com/

Macaco Pipi disse...

MUITO BOA
BELA CRITICA

Fabiano disse...

Show de bola. Vou assistir.
Já sou um seguidor.
Abraço.

Unknown disse...

eu prefiro a nossa cultura do que as de fora...temos que valorizar o temos aqui...

Anônimo disse...

Nossa , muito legal nunca vi nem ouvi falar sobre esse filme ... e agora muito menos me interesarei para vê-lo.Belo Blog.

Dú Esperanco disse...

caraca, belíssima crítica.
e não estou sendo falso!!
bom, diante de tal crítica sobre illy Elliot, sugiro uma parceria...
avalia o meu blog, ve se vc gosta, e se quiser a parceria, só comentar avisando, q agnt combina...
abraço
vc escreve muito
http://perguntasociosas.blogspot.com

gabi Moraes disse...

Uau, realmente você leva jeito!
Foi bom ver o filme sobre outro aspecto, você soube passar sua visão das entrelinhas muito bem.
Fiquei surpresa com o seu modo de transmitir sua ideia. Parabéns !
Estarei seguindo!!

Anônimo disse...

UAU CRÍTICA ARTISTICA DE PROFISSIONAL, PARABÉNS POR ESTE ENSAIO TEXTUAL, MUITO BOM SEU TEXTO...

B disse...

"I can't really explain it, I haven't got the words
It's a feeling that you can't control..."
Parafrasenado uns e outros, o texto esta excelente assim como o resto do blog.
Orgulho, 'ego mamaco', orgulho!

Anônimo disse...

LENDO NOVAMENTE TIVE UMA NOVA CONCEPÇÃO, ACREDITO QUE ESTE COMPLEMENTO IRÁ DIZER QUE ALÉM DE UM ENSAIO ESTE É UM TEXTO POLÍTICO E QUE TENTA RELEMBRAR O PASSADO E CELEBRAR O PRESENTE DE GRANDES ACONTECIMENTOS POSTOS EM CRÔNICA SUSTENTADA NA IMAGEM DE BILLY ELLIOT!

Manoel disse...

que bom que não vi esse filme. ele ficou mais chato depois dessa resenha. que, aliás, ta boa e deixou claro q, como suspeitava, não é o tipo de filme que eu gosto.