Onde vivem os monstros firma sua beleza na relação que alcança com o particular de cada espectador.
Poesia é o texto que trabalha a raiz das coisas, que trabalha a raiz da linguagem.
Onde Vivem Os Monstros radicaliza. É texto formal, engendrado a partir de normas narrativas, mas que, a partir disso, radicaliza a estética naquilo que abrange todo o conjunto apelativo aos sentidos, de modo que sensibiliza a memória e remete ao particular.
É poesia que emana da história.
Quando trato de um filme, costumo sempre abordar a qualidade do texto apresentado e entender o porque de, pra mim, ele funcionar ou não funcionar.
Com Onde Vivem Os Monstros, o que me chama atenção a escrever não é essa mesma qualidade discursiva. É algo muito mais pessoal, e discorro, então de maneira mais coloquial.
O êxito da história depende de uma aproximação com o publico, o grande objetivo, e aqui mérito, do filme é criar uma relação com seu espectador a partir de um universo comum. Nisso o filme é bem claro.
Jonze estabelece conosco uma relação que fere nosso lado nostálgico e nos chama para a historia.
Aquele garoto que tem os pais separados e tem de lidar com situações conflitantes, como sua mãe saindo com outros homens, pode não ser particular a todos aqueles que assistem ao filme.
Mas elementos como esses são referencias, talvez, mais do que isso, estruturas simbólicas que suportam a premissa dos conflitos e geram sentimentos naquele garoto, típicos de qualquer um nessa frase de transição.
Aqui, no entanto, seria muito fácil, ideologicamente, cair em construções estereotipadas e em um texto clichê. Mas o discurso apresentado é pessoal à seu narrador e àqueles que o assistem.
Não só entendemos o que leva Max (Max Records, em uma atuação simples e na medida) a criar seu mundo conflitante, mas como partilhamos com ele, uma vez mais em nossas vidas, desses conflitos.
Nesse sentido, Onde Vivem Os Monstros é nostálgico. Temos , em algum momento, que abandonar nosso porto seguro, e os demônios vão aparecer.
“Desconta tua angustia, naqueles que lhe dão apoio, mas que naquele momento, parecem tê-lo deixado só. É injusto ? É comum”.
Assim é a “rebeldia adolescente”.
A jornada particular do personagem é a mesma de todos que passamos por essa fase confusa. É repetitivo usar termos como, perda de inocência, tempo de maturidade ou conflitos de crescimento, mas termos assim são clichês por algum motivo. E se são efetivamente funcionais, o que importa, então, é a maneira como trabalhar essas idéias. Jonze o faz com a genialidade simples daquele que sabe do que esta falando.
Todos passamos pelos conflitos retratados, em diferentes níveis, mas essencialmente da mesma maneira. É ai que somos cativados. Onde Vivem os Monstros é uma pintura daqueles demônios que pareciam, ha algum tempo, terríveis, mas que, assim como Max, já superamos. Ao fim do filme, é hora de voltar pra casa.
2 comentários:
BLOG RECHEADO DE BOM CONTEÚDO, ATÉ OS POSTS ANTIGOS NOS ATRAEM, NADA SE DESATUALIZA E NEM FICA SEM TEOR AQUI NO BOITE DO FILM, PARABÉNS AO AUTOR!
CONCORDANDO NOVAMENTE COMIGO MESMO!
Postar um comentário