Muito além do jardim. A primeira vez que assisti devia ter uns 8 anos, foi com meu pai.
28 fevereiro, 2010
Being There
27 fevereiro, 2010
You must believe in spring.
Ando pela rua numa noite como outra qualquer. Uma noite de neve. A cada passo que dou, como que em uma provocação, a neve teima em cair mais forte. Ja não sinto mais minhas mãos, e meu rosto, enrolado até a altura da boca por um cachecol, é cortado pelo vento frio que se joga contra mim.
Posso andar mais depressa e em pouco tempo estarei em casa. Mas não quero. Não hoje.
Me jogo pra dentro do primeiro bar que vejo. Uma conversa num canto aqui e outra ali, logo no outro canto. O lugar não está cheio, mas também não está vazio. Procuro uma mesa em algum lugar mais isolado. A caminho da mesa as luzes do lugar diminuem.
As conversas silenciam.
Um foco de luz nasce e ilumina aqueles dois companheiros. Amigos de longa data. Ela, que agora se esconde atras do microfone, eu poderia dizer com uma quase certeza, já fora muito bonita um dia. Já fizera muito sucesso em palcos como este, cantando pra uma platéia quase como esta. Um pouco mais animada apenas. Ele, sempre a mão amiga, seu eterno companheiro, se senta frente ao piano. Seu rosto carrega marcas e seu fígado, deduzo pelo whisky em cima do piano, também já não é mais o mesmo.
Esse momento de consideração me toma uns cinco segundos. Tempo precioso e que não se pode ser perdido dentro de um bar. Não enquanto se pode estar bebendo.
Aquela música começa.
Ela ri de mim. Aquela música me encontra após tantos anos. Me olha, se lembra de quem eu já fui. Se lembra dos dias que eu já fui. E então, num tom que não reconheço, me conta isso tudo. Me conta minha própria história. Não sei se ela brinca comigo, se me quer bem ou se me quer mal. Não reconheço suas intenções.
Fico suspenso.
Eram perguntas que podiam ter me ocorrido. Mas não.
Não é o destino. Não é uma pegadinha, nada do tipo. É só o acaso.
You must believe in spring. A porta do bar abre. Uma rajada de vento entra. É um casal. Eles acham uma mesa e se sentam. Não posso evitar em sentir o frio que trouxeram. You must believe in spring, aquele bar me canta.
25 fevereiro, 2010
1933 foi um ano ruim.
A precisão com a qual algumas pessoas tem a capacidade de descrever seu passado é uma das coisas que mais me encanta.
Seja num filme, num livro, ou em qualquer outro suporte, textos sobre uma época passada carregam consigo aquelas impressões nostálgicas que, inevitavelmente, nos remetem a nossas próprias lembraças.
John Fante tinha essa habilidade. Seus escritos são impressões pessoais das coisas que viveu.
24 fevereiro, 2010
Um "textículo"!
À posterioridade fica este relato.
Fui eleitor de uma política falaciosa. Elegi a figura que teve melhor apelo aos meus olhos. Sonhei com o paradigma novo que ascendia. Fui. Fomos e elegemos.
Somos idólatras. Fomos.
Espero, ao menos, que seja um processo de gradual aperfeiçoamento humano.
18 fevereiro, 2010
Billy Elliot
Billy Elliot passava na televisão alguns dias atrás. Entusiasta da cultura britânica, o que mais me agrada no filme é seu subtexto.
17 fevereiro, 2010
We'll meet again!
16 fevereiro, 2010
Mon Oncle, le livre!
Mon Oncle, o livro, acaba de ser lançado pela editora Cosac Naify.
Tomando por base a obra cinematográfica de Jacques Tati, o escritor Jean-Claude Carrière escreveu em 1957 um pequeno romance.
15 fevereiro, 2010
Por que Avatar é tiro certeiro no Oscar?
Olhar suspeito! Por que os Na’vi suspeitam de nós ? Quer saber, eu suspeito deles!
Um povo que entende que viver em harmonia com a natureza seja se submeter a brutalidade dela, me parece no mínimo burro.
Dado o fato de que são intelectualmente desenvolvidos, os Na’vi são, então, a representação dos lunáticos de nossa sociedade. Fundamentalistas verdes que esbravejam contra a “selva de concreto”. Termo irônico, ainda, referenciando à própria brutalidade daquilo que defendem. Enfim...
Aqueles que criticam Avatar, de maneira negativa, partem, geralmente, do argumento que Avatar é, essencialmente, uma grande bobagem ideológica.
A formação de toda a geração jovem do século XXI, e daí pra frente, é construída sobre princípios “politicamente corretos”. Com um desastroso passado, recente, às costas, carregamos a obrigatoriedade de alertarmo-nos a qualquer tipo de desvio de conduta.
A era da liberdade de expressão é, também, ideologia. Mais precisamente, bobagem ideológica. Quando pensamos, nos diferentes estereótipos criados pela Indústria Cultural, adequando comportamentos a um padrão, invalidamos qualquer argumento a respeito da tal “liberdade de expressão”.
Um expoente, então, dessa cultura falaciosa é a cooptação mercantil dos valores que formam essa geração “politicamente correta” e “naturalmente verde” e a subversão desses valores em produto de consumo.
A defesa e o resgate do contato e respeito com a natureza, então, é nada mais do que mercadoria. Ideologia.
Formalmente, a ideologia, a se sustentar, depende de um discurso. E a continuidade do discurso ideológico, então, é o que garante a continuidade da ideologia.
Avatar é discurso ideológico. Avatar é uma grande bobagem.
O ser humano, sob a perspectiva apresentada no filme, tem que estar, a todo tempo, sujeito a natureza, em perspectiva de viver em harmonia.
O progresso da civilização, sob esse viés, é algo errado e mal. Somos grandes destruidores e devemos nos curvar diante a natureza.
Os seres de Pandora, no entanto, os Na’vi, são seres, que por estarem em harmonia com a (brutal) natureza, são seres superiores a nós.
Avatar ofende, nesse sentido.
Assim como a ideologia de negação aos valores sociais em voga, Avatar nega todo o processo de desenvolvimento humano e toma como exemplo, equívocos cometidos durante o percurso.
Que tenhamos errado em alguns âmbitos do desenvolvimento e ultrapassado alguns limites de consideração com nosso meio-ambiente é uma coisa, agora tomar isso como exemplo e fato único do crescimento intelectual humano, à fazer valer a negação de nosso desenvolvimento, e conseqüente propagação desse discurso ideológico é, infelizmente, genial.
O mercado procura discursos arbitrários à sua lógica, são esses que vendem. Vide Che Guevara em camisetas.
Avatar é um novo expoente dentro dessa lógica. Ele é o símbolo de uma era onde os jovens de hoje, irão entender o mundo de maneira mais aberta e, vivendo em maior harmonia com a natureza, salvarão a si próprios e ao mundo.
Besteira.
Além disso, o que certifico como algo, de fato, precioso no filme, é simbolizar, também, a revolução cinematográfica, ele simboliza essa nova era de efeitos 3D.
Sob esses aspectos, é impossível que Avatar não ganhe o Oscar de melhor filme. Impossível!
Tenho essa clareza uma vez que, operando dentro da lógica mercantil, como tudo, os prêmios da Academia vão validar o discurso “avatariano” e garantir a continuidade dessa grande bobagem que, por muito, ainda irá perdurar.
Afora o discurso ideológico, o texto do filme, limitado a si mesmo, sem referencias, é muito bem construído. Sem duvidas é um filme muitíssimo bem feito, desde a construção dos personagens até as cenas de beleza antológica, Avatar é um filme muito bem construído, o grande problema é que tudo está ali de premissa, à suportar o discurso ideológico.
Do contrario, que eu esteja errado, piora. Seria, então, a premissa ideológica sustentando o filme.
De um jeito ou de outro, ou até mesmo mutuamente... como eu disse, Avatar é tiro certeiro no Oscar!
10 fevereiro, 2010
Onde Vivem os Monstros (Uma Pequena Consideração)
Onde vivem os monstros firma sua beleza na relação que alcança com o particular de cada espectador.
Poesia é o texto que trabalha a raiz das coisas, que trabalha a raiz da linguagem.
Onde Vivem Os Monstros radicaliza. É texto formal, engendrado a partir de normas narrativas, mas que, a partir disso, radicaliza a estética naquilo que abrange todo o conjunto apelativo aos sentidos, de modo que sensibiliza a memória e remete ao particular.
É poesia que emana da história.
Quando trato de um filme, costumo sempre abordar a qualidade do texto apresentado e entender o porque de, pra mim, ele funcionar ou não funcionar.